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segunda-feira, dezembro 28, 2009

Indícios do fim de um ciclo


Recuos, perda da liderança na agenda política, excessiva encenação, sucessivas desautorizações e dissonância entre as propostas apresentadas e as prioridades de um país, são indícios do fim de um ciclo político. Dois meses volvidos sobre a tomada de posse, estes indícios são visíveis na governação socialista.
Suspensões, modificações, revogações de medidas tomadas ou acerrimamente negadas na anterior legislatura, são marcas do XVIII Governo Constitucional. Suspendeu o regime de actualização do indexante dos apoios sociais, modificou o prazo de acesso ao subsidio de desemprego, revogou as taxas moderadoras na saúde, avançou com a reprivatização do BPN, interrompeu o regime de avaliação dos professores, recuou no alargamento da concessão do terminal de contentores de Alcântara, suspendeu a intenção de tornar obrigatória a colocação de chips nas matriculas, etc …
Nos últimos tempos, foram os partidos da oposição que marcaram a agenda da política nacional, enveredando o Governo e o PS, pela artificial dramatização da vivência democrática, apelando primeiro, à intervenção do Presidente da República, depois censurando-o ante a sua recusa em comentar uma proposta concreta do executivo.
Somam-se as desautorizações públicas, algumas roçando a humilhação.
Ricardo Rodrigues, vice-presidente do grupo parlamentar do PS, desafia Cavaco Silva a intervir preventivamente, invocando estar em causa o regular funcionamento das instituições democráticas, facto prontamente desmentido por Francisco Assis, líder da bancada socialista.
Augusto Santos Silva, Ministro da Defesa, anuncia o reforço da presença portuguesa no Afeganistão, passando de 100 para 260 militares, depois de Luís Amado, Ministro dos Negócios Estrangeiros, o ter negado.
Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças, insurge-se na Assembleia da República contra o “regabofe” e o “desvario financeiro” do Governo Regional da Madeira, para logo de seguida a bancada do PS viabilizar um novo empréstimo de 79 milhões a contrair pelo mesmo Governo Regional.
Finalmente, enquanto desesperam com a crise e aguardam pelo avanço de medidas ajustadas ao seu combate, os portugueses assistem perplexos a algumas das prioridades do executivo ou do PS, como seja o casamento dos homossexuais, a regionalização ou o referendo à limitação dos mandatos nas autarquias locais.
É difícil governar em períodos de crise, é difícil governar sem se ter beneficiado de um período de "estado de graça", é difícil governar em maioria relativa e mais difícil num sistema politico como o português, onde os poderes do governo são mais limitados que noutros países, mas estas dificuldades não podem justificar tamanha desorientação num governo com apenas dois meses de vida.
Foto retirada daqui.

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