"Penso que é um exagero total entrar no domínio da dramatização, no qual não entrarei porque confio no bom-senso das forças políticas". O país, vive uma situação política que "não é inédita" e está "num tempo em que é preciso negociar, é preciso atingir compromissos, diálogo aprofundado e paciente", mas um entendimento “é sempre um ponto de chegada” e para isso “é preciso percorrer um caminho, dar passos para chegar a um entendimento".
Foi assim que Cavaco Silva reagiu à ofensiva socialista que pela voz de António Vitorino, Ricardo Rodrigues, Jorge Lacão, Mário Soares, entre outras conceituadas figuras, desafiaram o Presidente da República a intervir preventivamente, alegando que estava em causa, a prazo, a estabilidade governativa do país.
Cavaco Silva deixou claro que não irá corresponder ao apelo de socorro institucional ao Governo. Mas foi mais longe. Ao invés da peticionada reprimenda aos partidos da oposição, repreendeu isso sim o Governo a quem mandou governar no novo quadro político, ridicularizando a tentativa de "vitimização" do primeiro-ministro.
O Partido Socialista não merecia outra resposta. Vamos aos factos.
Na avaliação dos professores, o PSD apontou uma solução que mereceu a concordância do Governo e as criticas dos restantes partidos da oposição.
Os projectos de lei do BE, PSD e CDS-PP para acabar com as taxas moderadoras nos internamentos e cirurgias foram aprovados no Parlamento, com a abstenção do PS.
A suspensão do Código Contributivo, justifica-se como uma medida de não agravamento da situação económica do país.
A extinção do Pagamento Especial por Conta, o reembolso do IVA a 30 dias e a exigência de que o Estado pague a tempo e horas, não representam nenhuma diminuição de receita e, no segundo caso, além de credibilizar o Estado, introduz liquidez na economia.
A constituição de uma Comissão de Inquérito Parlamentar tendo por objecto o programa e-escolinhas e as actividades da Fundação para as Comunicações Móveis, insere-se nas normais competências de fiscalização da Assembleia da República.
A criação de uma Comissão Parlamentar para analisar e propor medidas de combate à corrupção, recebeu os votos favoráveis de todos os partidos com assento parlamentar.
O PS e os restantes partidos da esquerda viabilizaram a proposta do PSD, que aumentou o endividamento líquido da Madeira.
O Orçamento Rectificativo passou com a abstenção de PSD, CDS-PP e PCP e apenas o voto contra do BE.
Ao contrário do que o PS tem procurado incutir na opinião pública, o Parlamento não exorbitou as suas competências, não se apropriou da função executiva, nem os partidos da oposição tem agido levianamente.
O país vive uma nova realidade política, na qual o PS já não decide tudo sozinho, como se vangloriava o anterior líder parlamentar. Foi essa a vontade expressa pelos portugueses, um PS sem maioria absoluta, o alternativo PSD na oposição e os dois partidos mais extremos à esquerda e à direita, BE e CDS, com representação parlamentar reforçada.
A dramatização artificial do PS é, como escrevia ontem no Correio da Manhã, João Pereira Coutinho , uma confissão de que “só existe um tipo de poder que se ajusta aos portugueses: o poder absoluto, sem espaço para ‘diálogo’, ‘vigilância’ ou ‘negociação’. O Parlamento, na concepção do PS, não passa de um empecilho, que o eng. Sócrates suspendia de bom grado”.
Desenganem-se, porém, todos aqueles que pensam numa mudança de estratégia. O clima de vitimização está para ficar. O PS não conhece outra alternativa que não seja a de levar os portugueses a acreditarem que o país está ingovernável por culpa da oposição e só com novas eleições e a repetição da maioria absoluta socialista, será possível governar em Portugal.
Sem comentários:
Enviar um comentário