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A concelhia socialista famalicense, quase quatro anos depois volta a ter uma liderança escolhida pelos militantes. A polémica iniciada há dois meses não terminou, porém, no passado sábado e ficam por responder ainda muitas interrogações.
Nuno Sá, o novo líder local, foi eleito com 526 votos. Um resultado pouco estimulante. Menos 85 votos que os alcançados por Fernando Salgado na conhecida “Eleição da Roulote” e muito longe do milhar de militantes que alega terem subscrito o abaixo-assinado que condenou aquele acto de rua. O facto de se tratar de lista única e o mau tempo que assolou o fim-de-semana não chega para justificar tudo.
Há também quem se interrogue para onde foram parar os anteriores 611 votos de Fernando Salgado? Porque não votaram em branco, no passado sábado, como forma de contestação à dita “eleição ilegítima”? Será que redundaram nos 10 votos brancos que agora entraram nas urnas ou apenas terão respondido afirmativamente ao apelo de não participação imputado a um grupo de apoiantes da lista de Fernando Salgado?
Conseguirá Nuno Sá afastar a imagem de “mero agente” de Fernando Moniz, como afirmam os seus opositores? Responderá ao desafio lançado por Fernando Salgado, tornando público o abaixo-assinado contendo o alegado milhar de assinaturas ou optará pelo risco de ser visto como tendo faltado à verdade? Poderá inferir-se da sua garantia de não exclusão nem de discriminação de militantes, um apelo futuro aos órgãos superiores do partido para deixarem de fazer aquilo que antes solicitara (“uma actuação disciplinadora clara”), sobre os responsáveis pela “eleição fantasma” de Dezembro?
O último acto público conhecido de Fernando Salgado também não parece ter sido muito animador. Ao jantar que convocou, para reagir ao teor do parecer do Conselho Nacional de Jurisdição do PS que confirmou a irregularidade da lista que encabeçava, motivo da sua exclusão, não conseguiu sequer reunir metade dos 93 elementos que a integravam.
No ar ficaram também muitas interrogações. Porquê substituir uma expectável conferência de imprensa, por uma simples declaração, deixando os convocados jornalistas sem direito a perguntas? Não é para isso que, em boa medida, servem os comunicados? Porque razão centrou as críticas na pessoa do Presidente da Federação Distrital, cuja decisão foi avalizada positivamente por um órgão nacional da estrutura partidária? Será que pretendeu, indirectamente, dizer que o Conselho Nacional de Jurisdição é um órgão “fantoche” ao ponto de ser controlável por um órgão hierarquicamente inferior? Irá, porventura, recorrer judicialmente daquela decisão tanto mais que afirmou que teria de ser um órgão independente e imparcial a declarar a derrota da Lista que liderava? Irá Fernando Salgado e os seus principais apoiantes, renunciar ou suspender a militância, como já o fez Ivo Sá Machado, ao afirmar que não quer ser confundido com os dirigentes concelhios e federativos ou servirá a ausência de critica aos órgãos nacionais para justificar a manutenção dessa mesma militância?
Muitas dúvidas, muitas interrogações, poucas respostas possíveis no momento numa polémica que tudo indicia estar ainda longe do seu término.
Artigo de Opinião publicado no semanário “Opinião Pública”, edição de 24 de Fevereiro de 2006
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