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Apostar no descrédito do sistema partidário ou, pelo menos, na falta de credibilidade dos principais partidos, é uma aposta sem futuro. Muitos têm sido aqueles que procuram centrar a sua intervenção pública na falta de credibilidade na classe de agentes políticos. Outros foram mais longe e tentaram mesmo mostrar que a população não encara os políticos como gente séria.
A prática tem revelado, no entanto, que os dividendos são escassos para todos aqueles que prosseguem este tipo de intervenção. Mesmo ao nível de eleições autárquicas.
Os partidos políticos, sendo o principal suporte da democracia, são absolutamente imprescindíveis na actividade política, como escrevia Henrique Monteiro, na edição do “Expresso” da passada semana: “Por todo o mal que se possa dizer dos partidos – e muito há a dizer, certamente –, jamais se viu uma sociedade livre que não assentasse a sua existência numa democracia pluripartidária. Terá todos os defeitos do mundo, mas tem uma virtude que supera largamente esses defeitos: a nossa liberdade como indivíduos”.
Tal não significa que não haja lugar, fora das estruturas partidárias, para iniciativas políticas da sociedade civil, para os movimentos cívicos. Pelo contrário, são sempre bem vindos. Não há democracia sem partidos, mas ela não é propriedade dos partidos.
O que não há lugar, ou pelo menos estarão condenados ao fracasso, são os movimentos cívicos como aquele que alguns dos apoiantes de Manuel Alegre se apressaram a criar.
Primeiro, porque ao não prosseguir uma causa específica, mas antes uma causa geral, não é um movimento cívico, mas antes um verdadeiro movimento partidário. Segundo, porque tem na sua génese, ainda que encapotadamente, uma aposta no descrédito do sistema partidário.
Esta é uma aposta que já foi tentada no passado, nos anos 80, mas o partido que então surgiu à sombra dessa bandeira acabou, em poucos anos, por desaparecer da cena política.
Artigo publicado no semanário “Opinião Pública”, edição de 9 de Fevereiro de 2006.
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