O Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, veio a Vila Nova de Famalicão apadrinhar o lançamento do Programa TII – Tecnologia, Inovação e Iniciativa, destinado à formação de desempregados do sector têxtil ao nível das técnicas base de trabalho com um computador, resultado de uma parceria entre a Microsoft Portugal e o Citeve.
Agora que o silêncio imposto aos ministros foi levantado, desde que não escrevam artigos de opinião, acreditei que Vieira da Silva aproveitasse a oportunidade para, ainda que sumariamente, melhor explicitar esse grande “desígnio nacional”, a que José Sócrates chamou de “choque tecnológico”.
Mas nada. Nem uma palavra proferiu sobre o tema, nem sobre a sua transformação em “Plano Tecnológico”, a nova terminologia usada, certamente por se revelar mais consentânea com a responsabilidade governativa.
Mesmo que a grande maioria dos portugueses ainda não tenha percebido de que se trata afinal o tão propalado “choque”, o Ministro do Trabalho, porque não ache importante a “bandeira” do executivo socialista, ainda que a mesma incorpore eixos que o devessem preocupar, como a inovação, a tecnologia e a qualificação de recursos humanos ou porque tem bem presente o recente “choque” com o Ministro das Finanças a propósito da falência, em 2015, do sistema da segurança social, à cautela, preferiu omitir tal expressão e explicitação, não fosse provocar novos “choques governativos”.
Há, porém, uma terceira hipótese. Puro constrangimento. Na verdade o “choque tecnológico”, não passa de um “choque sonoro” e de um “choque eléctrico”.
Quando se apresentam 166 medidas de carácter avulso, muitas delas em andamento, ainda o Partido Socialista não tinha chegado ao poder, sem a participação nos trabalhos de elaboração, dos agentes a quem o “Plano” se dirige e que lentamente a todos vai desmobilizando, não é um “choque tecnológico”, mas antes um “choque sonoro”, um “sound bite” do moderno marketing politico.
Uma intenção governativa que já provocou faíscas entre Manuel Pinho, Ministro da Economia, e Mariano Gago, Ministro da Ciência e Ensino Superior, porque o primeiro tutelava o “Plano”, mas usava as dotações financeiras do orçamento do segundo, levando ao afastamento dos dois, não é um “choque tecnológico”, mas antes um “choque eléctrico”.
Um propósito do governo que “queima” os sucessivos dirigentes do projecto, de que o último exemplo foi a demissão da Unidade de Coordenação do independente José Tavares e sua substituição por Lebre Freitas, um simpatizante socialista, só pode ser considerado um “choque eléctrico”.
Mas, para o Partido Socialista, muito pior que este “choque eléctrico”, foi o que ocorreu no passado domingo. Ao ter ficado há frente de Mário Soares, Manuel Alegre provocou seguramente, não um “choque eléctrico”, mas uma autêntica “descarga eléctrica”, e de alta voltagem, nos seus dirigentes.
Artigo publicado no semanário “Opinião Pública”, edição de 27 de Janeiro de 2006
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