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terça-feira, outubro 18, 2005

AZIMUTE - Interrogações

Ainda a digerirem a pesada derrota sofrida nas autárquicas, muito cedo dois dirigentes da Comissão de Gestão Local do Partido Socialista, adiantaram o nome de António Barbosa, como o homem certo para protagonizar uma nova candidatura à Câmara Municipal em 2009. É indesmentível que o capital político granjeado durante uma campanha eleitoral não deve ser desperdiçado, e que é necessário dispor-se do tempo imprescindível para dar a conhecer e afirmar um candidato. Não deixa, porém, de ser menos verdade que um candidato formal, a quatro anos de distância, corre riscos de desgaste e de banalização enormes, conduzindo, em muitos casos e a final, à sua própria preterição. É igualmente inegável, que um candidato que se formaliza, mesmo que informalmente pela mão de terceiros, perde sempre algo da sua autonomia, facto que os companheiros de percurso, desde logo, devem evitar. Se assim é, e qualquer político o sabe, qual a razão para tanta pressa? Porquê limitar a vontade e condicionar a actuação futura do até aqui candidato socialista? Porquê fazê-lo correr riscos de elevado desgaste, num partido que ainda por cima não conseguiu sarar as feridas, resultado da luta fratricida travada em 2001? Sabemos bem que em política, quem sai em defesa de alguém, quem propõe o nome de outrem, nem sempre o faz inocentemente, de forma genuína, autêntica, pura e desinteressada. Muitas das vezes aproveita-se o momento para semear hoje, de forma a colher dividendos no futuro, imediato ou mais longínquo. Outras vezes antecipam-se cenários para criar situações de dependência ou de legitimação, que um dia mais tarde lhes possam trazer algumas vantagens. Estará, assim, o nome de António Barbosa, a ser usado como um trunfo ao serviço de interesses, naturalmente legítimos, na apresentação de uma candidatura à secção local do Partido Socialista, tanto mais que é publico que o mandato da Comissão de Gestão, que foi tudo menos de gestão, terminou com a realização das eleições autárquicas? Corresponderá a invocação do seu nome, a um mero exercício de proclamação de fidelidade política, serenando vozes discordantes quanto à designação de alguém para um cargo de nomeação governamental, que fundada ou infundadamente, se diz estar reservado a um militante que integrou a lista para a câmara municipal e cujo o preenchimento ocorreria em caso de derrota no concelho? Os tempos próximos darão resposta a estas e outras interrogações. Justificadas ou não, são seguramente verosímeis, logo naturais. Opinião Pública, 21 de Outubro de 2005

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